Cyberconstitutionnalisme

Resumo: Ao analisar o momento histórico em que se encontram os Estados Nacionais contemporâneos, cumpre observar o constitucionalismo pois tal movimento foi influenciado por diversos fatores políticos, econômicos, sociais, culturais, dentre outros que se encontram tanto no direito interno como no direito internacional.
Mesmo com a influência das novas tecnologias na seara conceitual do Direito, como por exemplo, o chamado constitucionalismo eletrônico, a cidadania global, a cyberdemocracia, os cyberpunks, cyberpaz e, etc.
Palavras-chave: Constitucionalismo. Cibernética. Direito Contemporâneo. Neoconstitucionalismo. Direito Constitucional.

Résumé: Lors de l’analyse du moment historique dans lequel se trouvent les États nationaux contemporains, il est nécessaire d’observer le constitutionnalisme car ce mouvement a été influencé par plusieurs facteurs politiques, économiques, sociaux et culturels, entre autres que l’on retrouve dans le droit national et international.
Même avec l'influence des nouvelles technologies dans le domaine conceptuel du droit, comme le soi-disant constitutionnalisme électronique, la citoyenneté mondiale, la cyberdémocratie, les cyberpunks, la cyberpaix, etc.
Mots-clés: Constitutionnalisme. Cybernétique. Droit contemporain. Néoconstitutionnalisme. Droit constitutionnel.
Observar as alterações na concepção clássica de constitucionalismo, no que se chama de neoconstitucionalismo, que via de regra, pressupõe uma concepção antipositivista, com franca predominância de princípios e valores sobre as regras, tendo coo efeito uma amplitude exponencial da jurisdição constitucional.
Deve=se repensar o próprio conceito tradicional de Constituição o que traz em seu bojo certas implicações sobre a cidadania, direitos fundamentais, instituição de poderes, e para se fazer uma relação com as novas sociedades de rede.
Para entender o constitucionalismo contemporâneo não é mais possível entendê-lo de forma fechado em torno da pirâmide de Kelsen, ao revés, usando a terminologia de Antonio-Enrique Pérez Luño pode-se imaginar a abóboda, isto é, a confluência de um conjunto de arcos esféricos, ou mesmo, vários sistemas policêntricos.
É possível perceber a importância da haver abertura da amplitude de conceituações mais antigas até a formação do movimento global que poderia nos levar a denominação de constitucionalismo. com.
A luta entre os Estados mais poderosos e seus aliados pelo absoluto controle e manipulações de informações versus a iniciativa cyberpunk, pelos cidadãos que defendem a utilização de criptografia e de métodos semelhantes para provar mudanças sociais e políticas.
Sente-se o perigo de mundo, onde os dados privados de cidadãos são sistematicamente coletados e requisitados para vigilância governamental, colocando em risco as liberdades sociais e políticas.
Lembremos que o constitucionalismo é movimento social, cultural, político e jurídico que surgiu vinculado à formação, manutenção e transformação das Constituições. Destaca-se que há sensível progresso a partir da segunda versão do Estado Moderno , no século XVIII, com as revoluções americana e francesa e também as posteriores Constituições, respectivamente, a de 1787 e 1791 também se manifestou tanto na Antiguidade como na Idade Média.
É pacífico o entendimento de que a ideia de limitação de funções do Estado e de proteção dos direitos fundamentais é resultante do período oitocentista, e, em torno destes dois eixos, surgiram os alicerces constitucionalismo clássico, que paulatinamente irão se reestruturando no tempo, até a fase, atualmente, denominada neoconstitucionalismo ou constitucionalismo contemporâneo .
O constitucionalismo contemporâneo do Estado Democrático de Direito que estabeleceu seus principais traços característicos nos último temos, sobretudo, a partir da Segunda Guerra Mundial.
Afinal, ocorreram transformações significativas nas Constituições, como ocorreu na Itália de 1947, na Alemanha, em 1949, de Portugal de 1976, da Espanha de 1978. Igualmente, em países da América Latina tais como Argentina, com as reformas de 1957 e 1994, na Colômbia, em 1991, o Brasil com a Carta Magna de 1988.
Destaque-se as variantes e prolongamentos de doutrinas tradicionais, denominadas de pós-positivismos e neodogmáticas que implicaram no risco de gerar indeterminação conceitual incompatível com o rigor e nitidez exigidos pela teorização do direito.
Dessa forma não são poucos os doutrinadores que se perguntam se, realmente, surge um novo constitucionalismo - neoconstitucionalismo - ou apenas se trata de uma nova roupagem para os mesmos problemas do passado.
Segundo Miguel Carbonell que acreditou que, como explicação para a complexidade de fenômenos jurídicos, é possível admitir essa nova nomenclatura na teoria e na prática do Estado Constitucional. Indo, para além de neoconstitucionalismo, igualmente, se projete o termo neoconstitucionalismo, no plural, pois dependendo do enfoque abordado é necessário observar um complexo processo de questões para as quais, podem ser experimentadas, maior dificuldade para se atribuir uma única definição.
A propósito, Carbonell crê que existem três distintos níveis para se analisar ao cogitar do neoconstitucionalismo. Entre estes, está a época histórica, pois este movimento pretende explicar um conjunto de textos constitucionais que surgiram depois da Segunda Guerra Mundial, especialmente, dos anos setenta do século XX.
São Constituições que não se limitaram à disposições de competências ou à separação de poderes públicos, contendo alto nível de normas materiais ou substantivas que tanto condicionaram o Estado por meio de fins e objetivos.
Já em segundo aspecto, constam as práticas jurisprudenciais que exigiram dos julgadores novos parâmetros interpretativos. Eis que constam um jogo de técnicas hermenêuticas apoiadas em princípios constitucionais e em diferentes teorias, tais como a da ponderação , proporcionalidade , razoabilidade , a da maximização de efeitos normativos dos direitos fundamentais, dentre outras.
O que leva os juízes a trabalharem com valores constitucionalizados, mas, muitas vezes de difícil aplicação, o que poderá acarretar decisões disfarçadas de real poder constituinte. É perceptível, nesse contexto, manter o equilíbrio das três funções do Estado.
Em terceiro nível, o neoconstitucionalismo está relacionado com novos desenvolvimentos teóricos, que partiram do sentido literal dos textos constitucionais para então explicar os fenômenos jurídicos. Podem-se citar várias doutrinas, como por exemplo, a de Ronald Dworkin , Robert Alexy , Gustavo Zagrebelky, Luigi Ferrajoli, Carlos Nino e Luis Prieto Sanchís, para provar que diferentes âmbitos culturais têm contribuído não apenas para compreender as Constituições e práticas jurisprudenciais, mas também para ajudar a criá-las.
Nessa linha de orientação, é possível encontrar referência aos autores ora mencionados, nas Cortes Constitucionais de Colômbia, México, Brasil e vários outros países.
Cumpre destacar as obras brasileiras de Lenio Luiz Streck, na quais aparece uma posição firme ao diferenciar o novo constitucionalismo (compromissário, principiológico e dirigente) do positivismo em suas mais variadas formas. “Qualquer postura que, de algum modo, se enquadre nas características ou teses que sustentam o positivismo, entra em linha de colisão com esse (novo) tipo de constitucionalismo.”
Assim, compactuando com a teoria ora apresentada, marcada pela viragem da hermenêutica filosófica, acredita-se que o neoconstitucionalismo deve ser entendido como superação e não mera continuidade do modelo anterior.
Ademais, Streck é contra toda forma de discricionariedade judicial, uma vez que a discricionariedade está ligada a subjetivismo (esquema sujeito-objeto), avesso ao Estado Democrático de Direito. Com base na hermenêutica da faticidade, no que denomina de Crítica Hermenêutica do Direito (Nova Crítica do Direito ), recoloca-se a discussão do enfretamento do positivismo e da indeterminabilidade do direito no contexto, não da simples dicotomia texto e norma, mas sim a partir da filosofia da diferença, que é ontológica entre texto e sentido do texto (2009; 2007).
Para Lenio Luiz Streck, a invasão da filosofia pela linguagem, em uma era da pós-metafísica objetiva a (re)inclusão da faticidade, que principalmente depois da década de cinquenta atravessa o esquema sujeito-objeto para abarcar a “circularidade” da compreensão.
O direito se rege pela palavra. Palavra escrita e positivada na lei que permite se fazer justiça no caso concreto. Sendo necessária a retomada da filosofia pelo direito, na denominação de Streck, da filosofia no direito, e não do direito.
Enfim, atualmente, os operadores jurídicos permanecem como reféns da metafísica, o que acarreta o distanciamento entre fato e legislação, entre a necessidade de aplicação dos direitos fundamentais e a Constituição.
Verifica-se que o neoconstitucionalismo é um termo que entrou na linguagem jurídica há pouco tempo e que, mesmo não possuindo um significado unívoco, adquiriu grande aceitação. Geralmente, é empregado para indicar uma perspectiva jusfilosófica que se caracteriza por ser um constitucionalismo antipositivista.
Streck critica as teses discursivo-procedimentais habermasianas, bem como as teorias da argumentação baseadas em Alexy; ambas, segundo Carbonell, podem ser também classificadas sob o prisma do neoconstitucionalismo.
Observa-se que mesmo sob enfoques diversos é importante a reflexão em torno de diferentes posicionamentos para tentar melhor compreender o mosaico de fenômenos que abarcam o constitucionalismo contemporâneo.
Considerando a teoria desenvolvida por Heidegger de radicalização da fenomenologia, em que o mesmo liga hermenêutica e faticidade, recoloca-se a questão da ontologia, mas não para abandoná-la, e sim, para buscar uma ontologia fundamental do ser, como filosofia hermenêutica, abrangendo a circularidade.
“(...) Superada estava, assim, a ideia da fundamentação na consciência e na representação da humanidade.” Ernildo Stein dispõe que, com isso, introduziu-se uma dupla estrutura na fenomenologia.
“A compreensão de ser sempre se dá no modo prático de ser do ser-aí, enquanto este se explicita (interpreta, compreende), e só a partir daí podemos dominar a lógica dos entes.” (2007).
Ocorre que a hermenêutica deve ser observada a partir dos dois teoremas fundamentais: o círculo hermenêutico e a diferença ontológica, vale dizer através da existência de um “logos” que se bifurca, “o logos da compreensão da linguagem, que comunica e o “logos” no qual se dá o sentido que sustenta a linguagem.
Heidegger depois irá chamar esse primeiro “logos” da compreensão de uma proposição, do “logos apofântico”, o logos que se manifesta na linguagem. E o outro “logos”, aquele que se dá praticamente no compreender enquanto somos um modo de compreender, irá chamar do “logos hermenêutico”.
Estes dois elementos, o “logos apofântico” e o “logos hermenêutico” irão constituir a distinção que dará material para que se possa depois falar numa hermenêutica filosófica” (1996).
Os três distintos níveis de observação do neoconstitucionalismo, Carbonell acredita que a novidade consista no conjunto, não tanto em seus aspectos isolados, mas quando analisados no mesmo tempo e no mesmo espaço (2007).
Igualmente, Luis Prieto Sanchís afirma que o constitucionalismo europeu do pós-guerra adquiriu uma singularidade tão grande que alguns autores não somente vislumbram uma nova e peculiar forma política do continente, mas inclusive o surgimento de uma nova cultura jurídica.
Assim, vale a pena citar alguns alcances do neoconstitucionalismo: (...) no cabe la menor duda de que ese constitucionalismo ha propiciado el alumbramiento de una teoría del Derecho en muchos aspectos distintas y hasta contradictoria con la teoría positivista que sirvio de marco conceptual y fecundas consecuencias: constitucionalismo de los derechos o, si se prefiere, Constituciones materiales y garantizadas. Que una Constitución es material significa aquí que presenta un denso contenido sustantivo formado por normas de diferente denominación (valores, principios, derechos o diretrices) pero de un idéndico sentido, que es decirle también qué es lo que puede e incluso, a veces, qué es lo que debe decidir. Constitución material se opone así a Constitución formal o meramente procedimental. Que una Constitucional se halla garantizada significa sencillamente que, como ocurre con cualquier otra norma primaria, su protección o efectividad se encomienda a los jueces; o si se prefiere, que en el sistema existen normas secundarias, de organización y procedimiento, destindas a depurar o sancionar la infración de las normas sustantivas o relativas a derechos. (2004).
O novo constitucionalismo de direitos ou essa supremacia material da Constituição funciona como uma diretiva fundamental a orientar as três funções estatais, servindo, ao mesmo tempo, como limite e garantia do Estado Democrático de Direito. E, quando se menciona sobre este novo paradigma estatal, é importante destacar que atualmente vive-se na sociedade da informação.
Como a internet é realidade mundial, ligando todos os países do mundo, numa sociedade internacional, pode-se cogitar em novo sentido de constitucionalismo, relacionado com a cyberdemocracia.
Na leitura dos livros de Cass Sunstein – Republic. com e Republic.com 2.0 de Joaquim José Gomes Canotilho, “Brancosos” e interconstitucionalidade. Itinerários dos discursos sobre a historicidade constitucional e de Antonio Enrique Pérez Luño¿Cibercidadani@ o ciudadani@.com? E Los Derechos Humanos en la Sociedad Tecnológica. Elas pretendem sugerir, como afirma o professor coimbrano, que as través mestras do constitucionlismo poderão estar perante uma total mudança de paradigma.
Canotilho menciona o fato de que os desafíos do constitucionalismo eletrônico, em uma primeira aproximação escrita em 2006, seriam apenas literárias.
Entretanto, atualmente, com a força da internet e os varios movimentos sociais que são acionados através da mesma, pode-se pensar que já se ultrapassou esse inicial momento.
As pessoas, atualmente, ligam-se não apenas através dos computadores, mas também, com telefones convencionais ou celulares em franca expansão, os serviços de governo eletrônico são implementados, comunidades e redes sociais surgem com as ferramentas da web 2.0, formas de ativismo político e protestos nascem, utilizando-se de tecnologias das mais diferentes redes informacionais.
Com a utilização desses fatores, pode-se pensar o constitucionalismo, através de um novo olhar eletrônico, como um movimento democrático, influenciado pela internet, no que se pode denominar constitucionalismo.com.
A cibercultura apresenta-se como um conjunto tecnocultural emergente do final do século XX, impulsionado pela sociabilidade pós-moderna em sinergia com a microinformática e o aparecimento das redes telemáticas mundiais.
Ou, uma forma sociocultural que modifica hábitos sociais, práticas de consumo, ritmos de produção e difusão de informação, criando outras formas de relações de trabalho, lazer, sociabilidade e comunicação social (LEMOS, 2010). Esse conjunto de novas informações e tecnologias comanda o ritmo das transformações sociais, econômicas, culturais e políticas do século XXI.
As consequências da cibercultura se fazem presentes em todos os países do globo, e somente um pensamento global pode dar conta dos desafios da atual sociedade da comunicação e da informação planetária.
André Lemos e Pierre Lévy, trazem alguns dados: (...) Segundo a Internet WordStats, números de junho de 2008, há 1,5 bilhão de usuários da internet no mundo e em todas as regiões. África, Oriente Médio,
América Latina e Caribe são as regiões que mais crescem, mostrando uma descentralização, embora a taxa de penetração seja maior em países desenvolvidos (Sudeste asiático, Europa e América do Norte). Mas já podemos afirmar que o crescimento do acesso é exponencial e mundial. O Brasil tem hoje 45 milhões de usuários (sendo 24,4 milhões de usuários residenciais), segundo dados do Ibopel/NetRating.
Embora não haja estatísticas definitivas, o Brasil está entre os 10 países em números absolutos de usuários, embora uma taxa de penetração muito pequena e inferior mesmo em comparação a países vizinhos da América do Sul.
Os brasileiros são ativos produtores de informação e participação de redes sociais. Os internautas brasileiros são aqueles que ficam mais tempo on-line por mês e usam muito ferramentas da computação social.
De acordo com o Ibotel/NetRatings, chegamos a nove milhões de usuários que acessam a leem blogs em um universo de aproximadamente 170 milhões de blogueiros. O número representa 46% de internautas ativos no país (2010).
A ascensão das redes sociais deve ser percebida em perspectiva global: cresce vertiginosamente o espaço de redes como MySpace – mais popular entre os músicos -, o Facebook e Twitter. Esses espaços possibilitam que internautas menos dotados de capital cultural e financeiro entrem em cena de maneira mais rápida.
Segundo dados, o recém-nascido Google+ , lançado no fim de junho de 2011, em um mês já contava com 25 milhões de inscritos. O Facebook somente chegou nesta cifra com três anos de existência e o Twitter com 33 meses, recebendo uma injeção de capital, em agosto, valorizou U$ 8 bilhões, levando ao surgimento do termo “bolha especulativa”.
No Twitter tudo é público, o que porque é postado ou porque se é seguido. Enquanto no Facebook o acesso restrito é a regra, raramente são os usuários do Twitter que ativam a função “proteger seus tweets”.
O objetivo do Twitter está na circulação mais ampla de mensagens. Fotos de uma viagem ou de uma festa encontrarão sempre lugar mais apropriado no Facebook. Entretanto, o Twitter longe de ser um telégrafo neutro, criou uma relação nova com a informação, a qual é amplamente transmitida por meio de links para várias fontes.
A twittosfera abarca uma mistura inédita de informações, fofocas e comentários dos mais diversos, recebendo o apelido de “canivete suíço”. Esse fato pode provar a desconfiança e o desprezo daqueles que não estão familiarizados com ele.
Equivocadamente, segundo Cardon, “se a afirmação da subjetividade, a flexibilização das formas de enunciação, a ludificação da informação (....) estão se tornando tendências centrais da relação com a informação, a exigência de veracidade e a busca por novos dados (...) não param de se fortalecer”. De fato, verdades e mentiras são facilmente identificados (CHOLLET, LE MONDE DIPLOMATIQUE BRASIL, 2011).
Devido a esses fatores, as redes sociais crescem em popularidade e a extrema diversidade de usuários permite que um conjunto de códigos comunitários se fortifique.
Todos compartilham a mesma interface virtual e o resultado é um esperanto digital cujos componentes foram reproduzidos nos cartazes de manifestantes árabes no inverno (do Hemisfério Norte) de 2011, ou dos “indignados” espanhóis, como sinais de reconhecimento (CHOLLET, LE MONDE DIPLOMATIQUE BRASIL, 2011).
Além, é claro, do “Ocupe Wall Street” nos Estados Unidos da América, no qual manifestantes mantém uma ocupação constante de Wall Street, o setor financeiro da cidade de Nova Iorque, em protesto contra a desigualdade social, a ganância empresarial e o sistema capitalista como um todo.
Assim, é possível se pensar o constitucionalismo em uma nova perspectiva policêntrica, como um movimento global, em defesa da democracia e dos direitos humanos/fundamentais.
Consoante Pérez Luño deve-se substituir a imagem piramidal kelseniana, por um horizonte plural de normas jurídicas, de procedência heterogênea e, que, em conjunto, formarão um panorama do ordenamento mais parecido com uma abóboda (2012).
Nessa perspectiva, é possível, igualmente, fazer a relação com vários princípios interconectados com o direito informacional, a cibercultura e a ciberdemocracia, como referido por Lemos e Lévy.
Da liberação da palavra em redes telemáticas surge um segundo princípio, “o da conexão e da conversação mundial” (ou o que Lévy chamou de “inteligência coletiva”).
A circulação da palavra em redes abertas, faz surgir um interconexão planetária fomentando uma opinião pública ao mesmo tempo local e global (LEMOS, 2010), o que se poderia entender como glocal. Aparecendo aqui o terceiro princípio da cibercultura denominado de “reconfiguração, social, cultural e política”:
As mídias de massa surgem a partir de século XVI com a formação da opinião, do público, primeiro pela imprensa e, mais tarde, pelos meios audiovisuais como o rádio e a televisão.
O transporte à distância do “pensamento e da força” (de Tarde, 2005) vai criar as redes das primeiras cidades modernas ganhando novas dimensões nos séculos XIX com a revolução industrial e com as mídias de emergência de processos comunicativos com funções pós-massivas e a emergência de processos comunicativos com funções pós-massivas, surgem formas de produção e circulação da opinião pública abertas multimidiáticas e interativas (LEMOS, 2010).
Há, portanto, além do sistema infocomunicativo massivo, em que os cidadãos apenas recebiam as informações, o sistema pós-massivo, no sentido da produção da palavra pelos antigos receptores. Dessa forma, o ciberespaço, faz emergir um sistema de retroalimentação (LEMOS, 2010).
Daí, que o sistema pós-massivo permite um novo espaço para debate não mediado, de conversação ampla e desterritorializão estatal.
No último livro de Julian Assange foi escrito com outros coautores e intitulado “Cypherpunks – liberdade e futuro da internet” e publicado recentemente no Brasil, é clara a preocupação com os perigos e o futuro da rede.
Trata-se da chamada “militarização do ciberespaço”, a vigilância das comunicações em rede por serviços de segurança e inteligência de alguns países (ASSANGE, 2013).
Ele destaca:
Quando nos comunicamos por internet ou telefonia celular, que agora está imbuída na internet, nossas comunicações são interceptadas por organizações militares de inteligência. É como ter um tanque de guerra dentro do quarto. (...) Nesse sentido, a internet, que deveria ser um espaço civil, se transformou em um espaço militarizado.
Mas ela é um espaço nosso, porque todos nós a utilizamos para nos comunicar uns com os outros, com nossa família, com o núcleo mais íntimo de nossa vida privada.
Então, na prática, nossa vida privada entrou na zona militarizada. É como ter um soldado embaixo da cama (ASSANGE, 2013).
No decorrer deste capítulo será demonstrado a luta que a iniciativa cypherpunk tem travado contra todas as formas de imperialismo e defesa da liberdade de expressão e informação para construção da cyberpaz.
As mutações sociais vêm acontecendo silenciosamente, porque as pessoas que sabem o que está ocorrendo, trabalham na indústria da vigilância global e não têm nenhum incentivo para falar abertamente.
Assange afirma que se nada for feito, em poucos anos a civilização mundial se transformará em uma “distopia da vigilância pós-moderna, da qual só os mais habilidosos conseguirão escapar. Na verdade, pode ser que isso já esteja acontecendo” (ASSANGE, 2013,
Continua o autor referindo que muitos escritores já refletiram sobre o que significa a internet para a civilização global; no entanto, muitos deles se enganaram, porque não tinham a perspectiva de quem vivenciou uma experiência direta, de cara a cara com o inimigo.
Ao contrário, do referido escritor, que ao longo dos seis últimos anos no WikiLeaks entrou em conflito com praticamente todos os Estados poderosos (ASSANGE, 2013).
A grande questão a ser levantada seria se a comunicação eletrônica poderá, ao final, emancipar ou escravizar a população?
Para responder a essa pergunta, ele refere – inicialmente – que “(...) Como marinheiros a favor do vento, raramente percebemos que, abaixo da superfície visível do nosso mundo, se esconde uma grande escuridão” (ASSANGE, 2013). A visão do australiano é que os
Estados seriam sistemas através dos quais fluem as forças repressoras, competindo entre si por apoio e levando a fenômenos de democracia aparente. Esta estaria encobrindo uma fachada de violência: controle sobre posse de terras, propriedades, arrendamentos, dividendos, tributações, multas, censuras, etc. (ASSANGE, 2013).
Ocorre que a maioria da população começou a imaginar que o novo espaço da internet, teria uma natureza platônica, onde existiria a liberdade inata de fluxos e informações, sendo livre do controle do Estado hobbesiano.
Assim, alguns (poucos) Estados conseguiriam controlar o fluxo de informações, o que possibilitaria a manipulação e o controle dos Estados menos desenvolvidos e da sociedade em geral. E, uma forma de lutar contra isso, seria a criptografia.
Notamos que seria possível utilizar essa estranha propriedade para criar as leis de um novo mundo. Para abstrair nosso novo reino platônico de sua base composta de satélites, de cabos submarinos e de seus controladores.
Para fortalecer nosso espaço por trás de um véu criptográfico. Para criar novos espaços fechados àqueles que controlam a realidade física, porque a tarefa de nos seguir nesses lugares demandaria recursos infinitos.
E assim, declarar a independência (ASSANGE, 2013). Acontece que o universo físico possibilita que um indivíduo ou grupos de pessoas codifique algo de maneira confiável, de forma que nem todos os recursos e nem toda vontade política da mais forte potência possa decifrá-lo, levando a formação de regiões livres das forças opressoras de um Estado externo. Dessa maneira, a sociedade poderá opor-se a uma superpotência e perceber-se livre do controle dos Estados.
O nó górdio reside em perceber até que ponto as forças repressoras do mundo físico podem se infiltrar no reino platônico da internet e sofrer o combate da criptografia e dos ideais dos cypherpunks, para que ocorra uma redefinição das relações de força. Urge ocorrer essa redefinição, para que o futuro da internet não se transforme no controle total dos mais fortes sobre os mais fracos e no triunfo da distopia sobre a utopia.
Ainda, que há mais ou menos duas décadas atrás, Alvin Toffer alertou para os sintomas de uma nova doença, a qual chamou choque do futuro, como sendo um estado psicobiológico provocado pelo fato das pessoas serem submetidas a mudanças excessivas num espaço demasiado curto.
Como consequência disso, um grande número de indivíduos começava a demonstrar aspectos de confusão, o que levava a uma enorme desorientação provocada pela chegada prematura do futuro (TOFFER apud BERTMAN, 1998). De fato, o rápido desenvolvimento da tecnologia pode levar a uma perda de direção.
Esses fatores levaram Stephen Bertman a escrever sobre uma nova força, que denominou de força do agora, representativa de um presente descomprometido com qualquer outra dimensão, ao mesmo tempo em que substitui o longo prazo pelo curto prazo, o duradouro pelo imediato, a permanência pela transitoriedade, a memória pelas sensações, a reflexão pelos impulsos (BERTMAN, 1998).
A partir daí, a pressa opressora caracteriza um ambiente de estímulos sensoriais velozes, aleatórios e pouco pensados, acarretando desorientação espacial e temporal.

Referências
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