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Cadastre-se como clienteNo crepúsculo de 22 anos de repressão o rádio tateava uma linguagem mais solta, para tentar compensar o atraso. O jornalista aproveitou essa brecha e não economizou na sua aventura. Sem qualquer tipo de censura, abriu os microfones para que o povo pudesse falar. Em meio a grandes besteiras e muitos acertos, o povo falou. Falava errado, falava feio, mas começava a ecoar o imenso grito contido. Para se ter uma ideia, foi o primeiro programa de rádio a desafiar as normas e pressionar para que os milicos retornassem aos quartéis, conta José Carlos Magdalena. O episódio aconteceu quando os soldados - acostumados à truculência - tentaram impedir a transmissão de uma greve que acontecia nos canaviais de Guariba (região de Araraquara/SP). Exatamente aquela greve, que mais tarde seria rotulada como o marco da abertura, sem riscos de retrocesso.
O livro Um Rádio no Porão conta como o programa de rádio foi o primeiro a enfocar e estimular, sem rodeios, os debates em torno de temas polêmicos, antes rechaçados a pontapés pelas tradicionais famílias de bem. Uma dessas histórias narra a surpresa e reação do dramaturgo Plínio Marcos ao ver uma breve representação radiofônica dos fragmentos de Navalha na Carne, que ainda não havia sido totalmente liberada pela censura. Jânio Quadros também passou pelo programa e deixou sua marca registrada. Durante uma entrevista, irritado, o ex-presidente deu um soco na mesa e pediu para o âncora mudar o tom respeitoso com que estava sendo tratado. Jânio sugeriu que o acusassem de traidor, de fujão, de bêbado e covarde. Essa é a fórmula ideal para que um programa de rádio seja ouvido com interesse, insistiu Jânio.