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O convite que me foi feito para prefaciar o novo romance do meu amigo Mário Antonio da Silveira, bem demonstra uma de suas maiores qualidades, a generosidade com que trata seus amigos. E, diante de sua personalidade provocativa e irrequieta, não pude deixar de aceitar e ver com isso, escancarar a porta de minhas memórias, de onde emergiram histórias e sonhos por ele plantados no curso de quase duas décadas de enraizada amizade.
Ainda que a porta da minha casa tenha uma aldrava, lembro-me que, o que a fazia abrir com maior amplitude, era sempre, a voz forte e calorosa de Mário Antonio que, em incontáveis manhãs de sábados ensolarados, nos surpreendia, já em nossa sala de estar, chamando-nos, um a um, pelo nome e apelidos, sem esquecer, inclusive, de chamar pelo nosso grande e desajeitado Merlin.
Reunida a pequena confraria, ele nos brindava com seu amor pelo conhecimento, nos entusiasmava com sua paixão pela vida e com o mais verdadeiro e sublime interesse em nos transmitir toda a sua bagagem cultural.
E, assim, não só minha família, mas também outros muitos amigos puderam viajar nas asas de suas curiosidades históricas, sempre bem situadas geograficamente, pontuadas por análises políticas e filosóficas, repletas de valores morais e sempre compartilhadas de forma leve e alegre. Bem por isso, o elegemos o “padrinho filosófico” de nossas filhas -ele não sabe, mas também dos pais delas!
Ao ler “Sob o som da aldrava”, senti-me, uma vez mais, em uma ensolarada manhã, confortável ao som da voz do meu grande amigo, e além de emocionar-me com a história de Luísa Maria e sua retidão de caráter, cultura, destemor e sensibilidade; descobri, por meio da descrição de cada cenário e do fio que bem teceu a trama, outro importante motivo a justificar o título que, carinhosamente, lhe demos, o de nosso padrinho filosófico.
Descobri, em suas linhas, que somente um homem que traz em seu peito, os corações de mulheres fortes, respeitáveis e respeitadas, saberia e poderia dar a devida importância aos papéis femininos, não só na ficção, mas também no seio de sua família e de sua comunidade.
A voz de Mário, pacífica e firme, também se fez ecoar, por meio de suas personagens que nos levam à reflexão sobre a inequívoca importância do papel da educação e da ética na formação de nossas meninas e, também, como instrumento que possibilite e dê garantia aos direitos das mulheres, ainda hoje, tão violados em todo o mundo.
De todo o modo, ao final, não posso deixar de citar um pequeno trecho do discurso feito na ONU, pela jovem ativista paquistanesa Malala Yousafzai, Prêmio Nobel da Paz - 2014, porquanto, este vem ao encontro da mensagem que, tenho para mim, ficou aqui desnuda por este romance:
“Não podemos nos esquecer de que milhões de pessoas estão sofrendo com a pobreza, a injustiça e a ignorância. Nós não devemos nos esquecer de que milhões de crianças estão fora da escola.
Nós não devemos esquecer que nossos irmãos e irmãs estão esperando por um futuro brilhante e pacífico. Deixem-nos, portanto, travar uma luta gloriosa contra o analfabetismo, a pobreza e o terrorismo. Deixem-nos pegar nossos livros e canetas porque estas são as nossas armas mais poderosas. Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo.”
À Luísa Maria foi dada essa oportunidade.
Boa leitura a todos.
Marúcia Barros Ramos - Promotora de Justiça de São Paulo